Mais uma pesquisa de campo - Escola Waldorf
Visita à Escola Waldorf Moara
por Laura Tatielle Marchiori Pires
No dia 4 de
setembro de 2015, fiz uma visita à Escola Waldorf Moara que está
localizada na SHCGN
703, Área Especial - Asa Norte, Brasília – DF,
https://revistamoarabrasilia.wordpress.com/
Pude
conhecer alguns dos espaços físicos e também um pouco sobre a
Pedagogia Waldorf.
Os
espaços visitados foram algumas das salas de aula, o Pátio de
Micael, a quadra de esportes, a biblioteca, a sala dos professores, o
parquinho interno (geralmente utilizado pelas crianças menores), a
cozinha e o refeitório, a sala de convivência dos pais, a
secretaria, a lojinha com venda de produtos específicos adotados
pela Pedagogia Waldorf (onde também costumam realizar bazares para
arrecadar fundos para eventos, passeios, reformas etc, das turmas da
escola), a
horta externa e o parquinho externo (que ficam numa área ao
lado
da escola, é um espaço extremamente agradável com muitas árvores,
redes para as crianças balançarem, algumas hortaliças e uma bela
área verde).
As
relações entre todos os envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem são muito valorizadas e constantemente
fortalecidas. A
comunicação entre os pais e professores é permanente, por meio de reuniões regulares,
pelo
grupo da turma em
e-mail e um grupo da turma no Whats
App. Além disso, são realizados diversos e rotineiros momentos de encontros de cada
turma, denominados de Vivência, onde o professor, os alunos da
turma, os pais e os familiares de cada aluno se reúnem. São
momentos de comunhão, lazer, confecção de
trabalhos manuais e
de produtos artesanais (muito utilizados e importantes na Pedagogia
Waldorf). Essas vivências aproximam muito todos os envolvidos nesse
processo, que é verdadeiramente
construído
por todos.
Para
entendermos o plano político pedagógico da Escola Moara, é preciso
conhecermos um
pouco sobre a Pedagogia Waldorf...
Entrevista Com Uma Professora da
Escola
por Laura Tatielle Marchiori Pires
1.
Nome da professora entrevistada. (gostaria de ser identificada na
pesquisa ou prefere não se identificar?) Você
leciona em qual série?
Podem
publicar sim o meu nome, Carmem Manuela Damo Córdova. Atualmente,
leciono aulas para a turma do segundo ano do Ensino Fundamental.
2.
Fale sobre a sua formação acadêmica.
Minha
primeira formação foi em Educação Física, feito na Universidade
de Brasília, apesar de ter algumas limitações foi um curso
excelente pois ampliou meu olhar sobre a cultura de movimento e a
educação como um aspecto amplo da sociedade. O segundo curso,
pedagogia, iniciei na UnB e tive dificuldades de continuar. Achei o
curso muito voltado para o processo científico e a prática, a qual
eu estava mais interessada, ficou do lado fraco da balança. O curso
de pedagogia terminei na faculdade AD1, um curso incomparável com o
da universidade pública, bastante fraco.
3.
O que fez você escolher a profissão de docente?
Foi
um caminho natural para mim. É uma atividade que de alguma forma
sempre exerci.
4.
A sua formação no curso superior de Pedagogia foi suficiente para
que pudesse desenvolver um trabalho docente seguro e de qualidade
junto aos seus alunos? Explique.
Não,
me mostrou caminhos de estudo. A docência é um processo vivo e não
estagnado, de maneira que algo que você constrói no presente pode e
deve ser reconstruído no futuro.
5.
Quais são as suas maiores dificuldades profissionais?
Falta
de tempo e de recursos financeiros.
6.
Que nota você daria para o seu trabalho como docente e o que
buscaria melhorar?
Não
me daria nota, tento fazer uma avaliação diária do trabalho e a
cada dia descubro pontos diferentes a melhorar, focando em alguns que
são cruciais para o momento.
Reflexões Após
Análise da Visita e da Entrevista
por Laura Tatielle Marchiori Pires
O
ambiente e
a prática educacional
da Escola Waldorf Moara são
realmente
muito
diferentes,
devido
à
forma como foi construída a
sua Pedagogia, a partir da Antroposofia de Rudolf Steiner:
A
Antroposofia, do grego "conhecimento do ser humano",
introduzida no início do século XX pelo austríaco Rudolf Steiner,
pode ser caracterizada como um método de conhecimento da natureza do
ser humano e do universo, que amplia o conhecimento obtido pelo
método científico convencional, bem como a sua aplicação em
praticamente todas as áreas da vida humana.
…
[4.Antropocentrismo.
Ela (a
Antroposofia)
parte da compreensão do ser humano para ele entender não só a si
próprio como a todo o universo. Para ela, o ser humano gerou, na sua
evolução, o mundo dos animais. Estes são especializações
evolutivas do ser humano, que representa a razão de ser do universo
físico, dele também dependendo a evolução do mundo
espiritual.]...
Essa
visão global do ser humano e sua ligação com o universo à sua
volta, torna a Pedagogia Waldorf muito distinta comparando-se aos
outros métodos pedagógicos, comumente empregados
nas escolas em geral:
Não há, basicamente, em nenhum nível, uma educação que não
seja a auto-educação. [...] Toda educação é auto-educação e
nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o
ambiente da criança educando-se a si própria. Devemos criar o mais
propício ambiente para que a criança eduque-se junto a nós, da
maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.
A Pedagogia Waldorf foi introduzida por Rudolf Steiner em 1919, em
Stuttgart, Alemanha, inicialmente em de uma escola para os filhos dos
operários da fábrica de cigarros Waldorf-Astória (daí seu nome),
a pedido deles. Distinguindo-se desde o início por ideais e métodos
pedagógicos até hoje revolucionários, ela cresceu continuamente,
com interrupção durante a 2a. guerra mundial, e proibição no
leste europeu até o fim dos regimes comunistas. Hoje conta com mais
de 1.000 escolas no mundo inteiro (aí excluídos os jardins de
infância Waldorf isolados).
As escolas Waldorf sempre foram integradas da 1a à 8a (ou 9a)
séries, e até a 12a quando possuem o ensino médio, de 4 anos. Não
há repetições de ano, e nem atribuição de notas no sentido
usual.
Uma das principais características da Pedagogia Waldorf é o seu
embasamento na concepção de desenvolvimento do ser humano
introduzida por Rudolf Steiner (veja
uma biografia dele). Essa concepção leva em conta as diferentes
características das crianças e adolescentes segundo sua idade
aproximada. O ensino é dado de acordo com essas características: um
mesmo assunto nunca é dado da mesma maneira em idades diferentes.
Ela é uma pedagogia holística em um dos mais amplos sentidos que
se pode dar a essa palavra quando aplicada ao ser humano e à sua
educação. De fato, ele é encarado do ponto de vista físico,
anímico e espiritual, e o desabrochar progressivo desses três
constituintes de sua organização é abordado diretamente na
pedagogia. Assim, por exemplo, cultiva-se o querer (agir) através da
atividade corpórea dos alunos em praticamente quase todas as aulas;
o sentir é incentivado por meio de abordagem artística constante em
todas as matérias, além de atividades artísticas e artesanais,
específicas para cada idade; o pensar vai sendo cultivado
paulatinamente desde a imaginação dos contos, lendas e mitos no
início da escolaridade, até o pensar abstrato rigorosamente
científico no ensino médio. O fato de não se exigir ou cultivar um
pensar abstrato, intelectual, muito cedo é uma das características
marcantes da pedagogia Waldorf em relação a outros métodos de
ensino. Assim, não é recomendado que as crianças aprendam a ler
antes de entrar na 1a série. Sobre a necessidade do brincar infantil
no jardim-de-infancia, veja-se o artigo "Crisis
in the Kindergarten: why Children Need to Play in School"
editado pela Alliance for Childhood. Para as caracterizações
sucintas do desenvolvimento infantil e juvenil em períodos de 7
anos, os setênios, base fundamental da pedagogia, vejam-se os
artigos de Sonia Setzer sobre educação
e drogas e o de
Sonia Ruella. Como o computador força um pensamento
lógico-simbólico, nenhuma escola Waldorf digna desse nome utiliza
essa máquina, sob qualquer forma, antes do ensino médio (9a série
na seriação Waldorf); ver artigos
a respeito.
As escolas Waldorf são totalmente livres do ponto de vista
pedagógico, pertencendo em geral a uma associação beneficente sem
fins lucrativos. Idealmente, a administração escolar é feita pelos
próprios professores (veja-se (texto
de Rudolf Steiner a esse respeito). Cada escola é independente
da outra: o único que as une é o ideal de concretizar e aperfeiçoar
a pedagogia de R.Steiner, visando formar futuros adultos livres, com
pensamento individual e criativo, com sensibilidade artística,
social e para a natureza, bem como com energia para buscar livremente
seus objetivos e cumprir os seus impulsos de realização em sua vida
futura. O amor que os professores Waldorf devem desenvolver pelos
seus alunos, e o conhecimento profundo que eles adquirem de cada
aluno são outras características fundamentais da pedagogia. Por
exemplo, idealmente durante os 8 anos do ensino fundamental cada
classe tem um único professor que dá todas as matérias principais,
isto é, fora artes, artesanato, educação física e línguas
estrangeiras (em geral duas, nos 12 anos de escolaridade). No ensino
médio há um professor que, durante os 4 anos, assume o papel de
tutor da classe. O médico escolar tem nas escolas Waldorf um papel
fundamental de apoio médico-pedagógico aos professores, e deve
conhecer profundamente a pedagogia.
Nos Estados Unidos, as melhores universidades costumam aceitar
com preferência os ex-alunos Waldorf, pois sabem que se trata de
jovens diferenciados, com uma vasta cultura, com capacidade de
concentração e aprendizado, e alta criatividade. Nesse país, que
tanto se caracteriza pela praticidade de seu povo e pela liberdade de
ensino, houve nos últimos 30 anos uma explosão de escolas Waldorf,
que passam hoje em dia de uma centena.
No Brasil
há 25 escolas Waldorf ou de inspiração Waldorf (sem contar
jardins de infância isolados), sendo 4 em S.Paulo (3 com ensino
médio). A mais antiga, existente desde 1956, é a Escola
Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo, que tem cerca de 850 alunos
e 75 professores. Agregado a ela há o curso mais antigo de formação
de professores Waldorf no Brasil, reconhecido oficialmente. Em
2010, segundo o site da Federação
das Escolas Waldorf no Brasil, há um total de 73 escolas Waldorf
reconhecidas por ela, com 2050 professores e 2500 alunos de jardim de
infância, 4180 alunos no ensino fundamental, 580 no ensino médio.
No Brasil, espera-se que os formados no ensino médio ainda façam
um semestre ou um ano de cursinho para entrar nos cursos superiores
mais concorridos, se bem que tem havido muitos casos
de aprovação no vestibular nas melhores universidades, sem
cursinho. Em geral, os ex-alunos entram em faculdades de procura
média sem necessidade de preparo adicional.
Fonte:
http://www.sab.org.br/portal/pedagogiawaldorf/27-pedagogia-waldorf
Após esse breve apanhado sobre a Antroposofia e a Pedagogia Waldorf, podemos compreender um pouco melhor como se estrutura a vivência do processo de ensino-aprendizagem na Escola Waldorf Moara Brasília, que eu visitei.
Refletindo a respeito da visita e da entrevista feita com a professora, admito ter ficado
bastante impressionada, positivamente admirada, me deu vontade de
voltar a ser criança e estudar nessa escola.
Percebi
que ali a criança se desenvolve de modo global, sem a crescente
pressão do estudo voltado para a aprovação no vestibular ou focado
no mercado de trabalho, na competitividade, mas sim voltado para o
autoconhecimento, para descoberta e o desenvolvimento das
potencialidades e das habilidades de cada um. O brincar é
reconhecido como importante etapa na construção do aprendizado. O
tempo de cada um e a maturação biológica das crianças são
respeitados. A figura do professor é muito importante, tem um papel
afetivo muito grande criando um laço com as crianças que se traduz
em segurança e confiança, resultando em maior sucesso no ensino dos
conteúdos.
Quanto à entrevista, a professora se mostrou muito tranquila, dedicada, esforçada e segura em sua prática pedagógica, pelas suas respostas e pela minha observação durante o tempo em que estive lá. Ela possui, também, a formação em Educação Física, e isso contribui muito para trabalhar com os alunos a consciência corporal, as atividades motoras, as práticas corporais, e para o desenvolvimento da propriocepção, ajudando as crianças a perceberem a si mesmas, aos outros e ao ambiente ao seu redor.
A professora Manuela disse uma coisa que é essencial: “A docência é um processo vivo e não estagnado, de maneira que algo que você constrói no presente pode e deve ser reconstruído no futuro.” Bem, isso é muito verdadeiro, pois essa profissão exige formação continuada, crítica e reflexiva. O professor precisa estar atuando e refletindo sobre essa sua atuação, para fazer os constantes ajustes necessários, reinventando a sua prática docente de acordo com as frequentes pesquisas que devem ser feitas sobre as necessidades e o aproveitamento da sua turma de alunos. As decisões do professor, suas escolhas, os métodos empregados, os recursos utilizados, as atividades propostas, o material didático, as orientações, enfim, toda a sua prática em sala de aula deve ser cuidadosamente pensada e sempre revista, pois é isso que faz a diferença para o sucesso do processo ensino-aprendizagem.
Para mim, essa visita e essa entrevista foram muitíssimo ricas, abriram o meu olhar para uma nova forma de compreender e de atuar na Pedagogia. Espero que possa ser valiosa também para os leitores desse Blog. E, para quem quiser saber um pouco mais sobre a Pedagogia Waldorf, deixo aqui em baixo um texto extraído do site do Curso Waldor de Belo Horizonte: http://cwbh.com.br
Para conhecer um pouco mais sobre a Pedagogia Waldorf, aqui mesmo em nosso Blog, nos arquivos Extras, leia o texto:
CONHEÇA
A PEDAGOGIA WALDORF
fonte:
Texto extraído do site do
Curso Waldorf de Belo Horizonte http://cwbh.com.br
Acessando o seguinte endereço eletrônico:
http://pedagogiaintegrador.blogspot.com/2015/10/conhecaa-pedagogia-waldorf-fontetexto.html
Acessando o seguinte endereço eletrônico:
http://pedagogiaintegrador.blogspot.com/2015/10/conhecaa-pedagogia-waldorf-fontetexto.html