CONHEÇA
A PEDAGOGIA WALDORF
fonte:
Texto extraído do site Curso Waldorf de Belo Horizonte
http://cwbh.com.br
O
QUE SÃO AS ESCOLAS WALDORF
A primeira Escola
Waldorf surgiu em 1919, na Alemanha, sob a orientação de Rudolf
Steiner. Ela foi criada a pedido de um industrial para atender os
filhos dos operários e funcionários da fábrica de que era diretor.
Foi uma experiência de sucesso.
Hoje as Escolas
Waldorf formam uma rede de ensino em crescimento em todo o planeta,
presentes nos cinco continentes. E, embora tenham sido criadas na
Alemanha, buscam incentivar e incorporar a cultura do país em que se
encontram.
No Brasil, a
primeira Escola foi criada em 1956, em São Paulo. A partir de então,
o movimento tem se expandido com novas escolas em Aracajú (SE), Belo
Horizonte, Botucatu (SP), Brasília, Curitiba, Cuiabá,
Florianópolis, Fortaleza, Friburgo, Juiz de Fora, Ribeirão Preto,
Rio de Janeiro, Salvador, entre outras.
Não há
administração central; cada Escola é independente. Há, contudo,
associações que apoiam o movimento, promovendo cursos e congressos
de atualização de professores e muitas vezes, ajuda financeira para
escolas de poucos recursos materiais.
A organização
administrativa de cada instituição Waldorf também segue o
princípio da autogestão. Não há um único dono ou diretor, mas
conselhos . Os professores são plenamente responsáveis pelos seus
procedimentos pedagógicos, trabalhando sempre em equipe. Cada escola
é representada juridicamente por uma Associação sem fins
lucrativos , da qual participam professores, pais, e aqueles que
sentem afinidade com os seus propósitos educativos e culturais. Esta
filosofia, ou tipo de gestão que dela provém, não muda em nada
quaisquer responsabilidades pedagógicas, financeiras ou jurídicas.
A Escola Waldorf responde a todos estes níveis, como qualquer outra
escola.
Os pais e a
família têm papel preponderante. Geralmente se entusiasmam pela
proposta e colaboram para que ela possa ser viabilizada.
PROPOSTA
PEDAGÓGICA
A partir da
análise de dimensões específicas do ser humano como o pensar, o
sentir e o querer, Rudolf Steiner firmou as bases de uma educação
que tende a responder às necessidades atuais e futuras da
humanidade. Segundo ele, uma sociedade só pode configurar-se e
desenvolver-se de forma sadia e adequada às solicitações da época
em que está inserida, se levar em conta as dimensões essenciais do
ser humano.
Sobre a base desse
mesmo princípio, concebeu a Trimembração do Organismo Social. Para
isso, revalorizou os impulsos da Revolução Francesa: Liberdade,
Igualdade e Fraternidade, como diretrizes máximas das diferentes
funções sociais. Definiu a Liberdade como o princípio básico que
deve reger a vida cultural-espiritual; a Igualdade como alicerce
fundamental da questão jurídico-legal e a Fraternidade como
sustento imprescindível para a atividade econômica. Na Educação
isso significa:Desenvolver na criança as bases para um pensamento
claro e preciso, isento de preconceitos e dogmas, o que leva à
liberdade;
Cultivar
sentimentos autênticos não massificados e que respeitem os demais,
num marco de igualdade de direitos e obrigações;
Gerar uma
capacidade vigorosa de sustentar responsavelmente a fraternidade na
vida econômica do futuro.
Essa visão do
homem e da sociedade alimenta tudo o que é feito nas Escolas Waldorf
do mundo inteiro, tanto na ação pedagógica como no que se refere à
sua organização institucional de auto-gestão colegiada e interação
sócio-comunitária.
CONSTITUIÇÃO
HUMANA
No ser humano,
encontramos três veículos de expressão: o corpo, as emoções e a
mente. A esses três veículos de expressão correspondem três
funções: o querer, o sentir e o pensar. Todos esses aspectos
precisam ser trabalhados com a mesma atenção para a plena
realização do potencial humano. Esse é o objetivo da Pedagogia
Waldorf, e por isso ela desenvolveu atividades para cada um daqueles
aspectos.
O corpo é educado
por meio de atividades práticas como jardinagem, marcenaria,
construção, ginástica, trabalhos manuais, entre outras. A educação
do corpo, tal como é praticada nas Escolas Waldorf, fortalece também
o caráter da criança, pois desenvolve a sua força de vontade,
criando nela qualidades como a disposição para enfrentar
dificuldades e a perseverança.
As emoções são
trabalhadas por meio da arte: música, canto, desenho, pintura,
literatura, teatro, recitação, escultura e cerâmica. Por meio da
expressão artística, são dadas muitas oportunidades para o
refinamento da sensibilidade, e a harmonização de conflitos na área
afetiva e social.
A mente é educada
por meio da transmissão do conhecimento de forma balanceada e
adequada à idade do aluno. Nas Escolas Waldorf busca-se cultivar o
sentimento de admiração que as crianças têm em relação à
natureza e ao mundo como forma de manter vivo o seu interesse em
aprender. Arte e atividades práticas são também instrumentos a
serviço das matérias acadêmicas.
Com a educação
integrada de todos os aspectos do seu ser, a criança aprende a não
dissociar seus pensamentos, sentimentos e ações, podendo tornar-se
um adulto equilibrado e coerente.
OS SETÊNIOS
São de
conhecimento geral algumas crises básicas na biografia humana: por
volta dos 7 anos, a troca de dentes; aos 14, a puberdade; aos 21, a
maioridade. Aprofundando a observação dos períodos delimitados por
essas crises, Steiner percebeu a qualidade essencial de cada um
deles.
Os primeiros 7
anos de vida são dedicados ao conhecimento e amadurecimento do
corpo, seus limites e capacidades. A aprendizagem neste período é
realizada principalmente por vias inconscientes, baseada na imitação.
A criança estrutura as suas experiências por meio de brincadeiras
que brotam da sua imaginação. Em função da saúde física e
psíquica, o intelecto e a memória não devem ainda ser solicitados.
É preciso primeiro que o corpo físico dê os sinais de sua
maturidade e solidez estrutural, o que ocorre por volta dos 7 anos. A
virtude básica que a criança precisa ver manifestada ao seu redor é
a gratidão pela vida. O mundo é bom!, ela deveria vivenciar.
Dos 7 aos 14 anos,
os sentimentos estão se consolidando. São de suprema importância,
nessa fase, as atividades artísticas. São então criadas as bases
para o comportamento ético: o sentimento de fraternidade para com os
semelhantes e de reverência em relação aos mistérios da vida e da
natureza. A virtude básica que a criança precisa ver manifestada ao
seu redor, nessa fase, é a beleza. O mundo é
belo!
Dos 14 aos 21anos,
os pensamentos e a visão pessoal do mundo são, então, estruturados
de forma abstrata. Surgem as perguntas existenciais. A virtude básica
que o adolescente quer ver ao seu redor é a sinceridade da busca de
auto-conhecimento dos que o rodeiam. O mundo é verdadeiro!
Como as
necessidades de cada fase são equilibradas no currículo da Escola
Waldorf?
EDUCAÇÃO
INFANTIL
Como foi dito
acima, no primeiro setênio o aprendizado se dá grandemente por vias
inconscientes. As influências do meio ambiente são absorvidas e
incorporadas, através de uma profunda empatia, que aos poucos
exterioriza-se em imitação.
As crianças imitam
as predisposições psíquicas e mentais dos que os rodeiam, suas
posturas corporais, hábitos e atividades que exercem. Fazem isso em
brincadeiras: o brincar espontâneo é uma atividade da mais profunda
seriedade, é o seu trabalho.
A capacidade de
concentração, a acuidade auditiva (sensibilidade musical, saber
ouvir o adulto), o desenvolvimento psico-motor, a maturação da
lateralidade (base para a escrita), a linguagem, são amplamente
cultivados no maternal e no jardim de infância . Estas são
habilidades básicas para que o processo de alfabetização, que se
inicia em torno dos sete anos, aconteça de maneira harmônica para o
desenvolvimento da criança como um todo.
O ambiente e as
atividades do maternal e jardim têm como finalidade oferecer as
condições necessárias para que o potencial do primeiro setênio
seja plenamente realizado, com liberdade e disciplina amorosa. Por
esse motivo, o dia segue um padrão ordenado, com repetição de
atividades e rotina criativa.
Na Educação
Infantil, tentamos reproduzir, tanto quanto possível, a acolhedora
atmosfera do lar. A própria composição das turmas assemelha-se a
uma família: crianças de idades diferentes – de 2 a 3 anos no
maternal e de 4 a 6 anos no jardim - convivem num mesmo grupo. Assim,
os menores são estimulados pelos maiores, cujas habilidades almejam
adquirir; e os maiores desenvolvem um senso de responsabilidade
social, ajudando a zelar pelos menores.
BRINCAR
ESPONTÂNEO
Brincar é a aula
da criança, momento em que ela estrutura ativamente a vivência que
tem do mundo. Todo o ambiente do maternal e jardim é montado em
função de permitir brincadeiras criativas e construtivas; panos
coloridos para montar cabanas e inventar fantasias; brinquedos
artesanais que mais sugerem do que definem, estimulando a imaginação;
tesouros da natureza, tais como pedras, conchas,
sementes, etc.
bonecas de pano e marionetes- tudo em material natural, para a
educação do tato. Depois de brincar livremente, todos juntos
ordenam a sala e os brinquedos. Quando estão ao ar livre, as
crianças brincam de uma forma mais extrovertida, com terra, água,
areia, árvores, adquirindo domínio do próprio corpo, exercitando a
coordenação motora e a auto-confiança.
BRINCAR
DIRIGIDO A PARTIR DE 4 ANOS
Rodas, cantigas e
brincadeiras folclóricas, poesias e dramatizações. Aprender a
brincar em grupo e a respeitar o outro. Descoberta de movimentos,
musicalidade e ritmo. Versos ritmados, movimentos corporais,
permeados de musicalidade, trazem conteúdos e imagens que alimentam
o universo interno da criança, despertando uma intensa alegria em
estar no mundo.
ATIVIDADES
ARTÍSTICAS
Vivência de
cores, desenho livre, modelagem, culinária, trabalhos manuais, num
amplo exercício da motricidade fina, que se faz importante a partir
dos 4 anos.
CONTOS
DE FADAS
A partir do
jardim, o dia é finalizado com um conto de fadas, rico alimento para
a alma e a imaginação infantil, pois contém imagens de profunda
realidade espiritual, atingindo regiões inexploradas do
inconsciente. No maternal ( 2 e 3 anos), as histórias são mais
simples, em respeito à peculiaridade desta fase, não se utilizando
ainda os símbolos dos contos de fadas.
ENSINO
FUNDAMENTAL
Nossa Pedagogia
pretende educar o ser humano através da arte. Todo o ensino tem o
elemento artístico como base. Através deste elemento procura-se
desenvolver o conhecimento, que vai atuar no pensar do aluno de forma
abrangente, estimulando seu amor aos outros seres humanos e o
respeito pela natureza.
O conteúdo de
cada ano é adequado à idade dos alunos. O currículo proporciona à
criança uma visão ampla e viva das matérias, além de possibilitar
a aquisição de conhecimentos gerais e preparar o jovem para o
exercício da cidadania.
Eis aqui um exemplo
resumido do currículo das Escolas Waldorf:
Currículo
Waldorf Simplificado
1o ano
* Introdução
pictórica ao alfabeto, escrita, leitura, poesia e teatro.
* Contos populares:
contos de fada, fábulas, lendas.
* Números,
aritmética, introdução às operações e cálculos mentais.
* Histórias de
natureza, construção e jardinagem.
Trabalho com parte
rítmica e para o amadurecimento motor.
Lendas da Natureza
para o ensino de ciências.
Trabalho de formas
(a reta e a curva; variações)
2o ano
* Escrita de
imprensa, leitura, ortografia, poesia e teatro.
* Aprofundamento
das quatro operações matemáticas e cálculos mentais.
A noção do Tempo:
as estações, o dia e a noite, as horas.
Fábulas e lendas
da natureza e de Santos.
As diferentes
formas de plantio : horta, pomar, jardim etc.
Trabalho de formas
(formas com movimentos rítmicos, espelhamentos duplos)
3o ano
Escrita, leitura,
ortografia, introdução à gramática, poesia e teatro.
Escrita cursiva.
Os primeiros
problemas escritos, as contas, os cálculos mentais e as unidades de
medida.
Valorização homem
através do tema das profissões.
Os povos do mundo e
suas casas.
A construção
individual da casa.
O trabalho na terra
(cereais e hortaliças)
4o ano
Lendas sobre os
cereais e flores.
Histórias do Velho
testamento.
Trabalho de formas
(espelhamentos quádruplos e formas com metamorfose)
Ampliação das
classes gramaticais, ortografia, poesia e teatro.
Frações,
problemas e introdução à geometria à mão livre.
Trabalho de formas
(formas celtas cruzadas)
* Mitos nórdicos,
história e contos de civilizações antigas.
* Geografia e
história local e citadina.
Geografia e
história regional do Brasil.
Zoologia
comparativa.
5o ano
Redação criativa,
leitura, ortografia, gramática.
Números relativos,
aprofundamento das frações, problemas, expressões numéricas e
potenciação.
Geometria à mão
livre – rosáceas - e introdução ao uso de instrumentos.
História e
Geografia das Civilizações Antigas: Egito, Mesopotâmia, Pérsia,
Índia e
Grécia.
História,
geografia e folclore das Civilizações Latino Americanas.
Botânica.
6o ano
Introdução à
álgebra, juros e porcentagens e a geometria com uso de instrumentos.
Redação criativa,
leitura, estilos de redação, gramática (revisão da morfologia e
introdução à
sintaxe).
História e
Geografia de Roma Antiga e Idade Média.
História do Brasil
Colônia.
Finalização da
Geografia Geral e Humana das Américas e África
Iniciação à
Astronomia.
Iniciação à
Geologia
Física (em
especial ótica e acústica )
7o ano
Álgebra, Raiz
quadrada, Potenciação, Expressões algébricas e geometria.
* História :
Renascença, Expansionismo e a História do Brasil ligada ao período
renascentista.
A História da
Época Moderna: Revolução Francesa e os primórdios da Revolução
Industrial.
Redação,
morfologia ,sintaxe e leitura de trabalhada.
Biografias ligadas
à época histórica
* Geografia Geral e
Humana da Europa.
Ciências: Física
(em especial eletricidade e magnetismo), Química (cal, carbono,
calor e metamorfose dos elementos) e Fisiologia (sistemas do corpo
humano).
8o ano
Polinômios,
Sistemas de equação, Produtos Notáveis e Geometria.
Redação, sintaxe
e trabalho com biografias de vultos contemporâneos e estilos
literários.
Geografia Geral e
humana da Ásia.
História Mundial
da Época Contemporânea.
Ciências: Física
(em especial mecânica), Química (ácidos e base, sal e açúcar), e
Fisiologia
(Esqueleto, órgãos de sentido: em especial olho e ouvido)
TEATRO do 8o ano:
processo que leva a um fechamento desse ciclo e utiliza as
inúmeras
habilidades pictóricas, literárias, musicais, de expressão
corpórea, fala, canto e sociais, desenvolvidas ao longo dos oito
anos pelos alunos.
Além das
disciplinas tradicionais (vide currículo resumido acima), são
oferecidas as seguintes matérias, todas com conteúdo e currículo
específicos para cada idade, sendo consideradas de igual importância
para a formação do jovem e da criança : Música, Alemão, Inglês,
Educação Física,Marcenaria, Euritmia,Trabalhos Manuais, Artes
aplicadas, Desenho, Pintura e Atividades Teatrais.
LÍNGUAS
ESTRANGEIRAS
A criança que bem
cedo é exposta a outro idioma adquire facilidade para, no futuro,
relacionar-se com o próximo, ampliando a capacidade para a
compreensão social de outras culturas. O trabalho com outras línguas
aprimora a capacidade de ouvir e falar, propicia flexibilidade ao
pensamento, desenvolve a habilidade de síntese e fortalece a
concentração.
O Ensino de
línguas estrangeiras começa no primeiro ano, trazendo, a princípio
de forma não intelectual, a musicalidade da língua e suas
características culturais.
DESENHO/
PINTURA / TRABALHOS MANUAIS/ ARTES APLICADAS
O Currículo
Waldorf contém, do jardim de Infância até a última série, um
programa de atividades artísticas e artesanais, tão intimamente
adaptadas à faixa etária de cada classe quanto é o ensino de
matérias tradicionais.
Nos Trabalhos
Manuais as crianças fazem tricô, crochê, bordado. Nas Artes
aplicadas (a partir de 11 anos de idade) as matérias são: costura,
marcenaria, cestaria, etc, todas ligados às inúmeras atividades
primordiais da humanidade.
O Desenho, a
Pintura e a Modelagem estão sempre presentes nas aulas ministradas
pelo professor de classe, inclusive como suporte para a transmissão
de conteúdos. A partir da quinta série, um professor específico
assume estas matérias, trabalhando a observação exterior do mundo,
a expressão artística interior, a beleza aliada à técnica, ao
saber fazer.
A Atividade
Artística na Escola Waldorf não visa formar artistas ou artesãos,
porém vivenciar processos. Educar o sentimento, o pensamento, a
capacidade de agir; construir algo com as próprias mãos ; cultivar
a perseverança, a coordenação motora, o senso estético. No
contato com a matéria, o aluno tem uma autêntica relação com o
mundo real.
Tais disciplinas
têm alto valor pedagógico, quando exercitadas com regularidade. Uma
das consequências é a compreensão do trabalho alheio e o respeito
ao trabalho manual, além de um gosto seguro por aquilo que é bem
feito e belo.
MÚSICA
Toda criança ,
desde pequenina, traz a música dentro de si.
Dos 0 aos 7 anos,
esta musicalidade manifesta-se principalmente em sua corporalidade.
Os ritmos, os movimentos, os gestos e os sons que vivem em seu
ambiente, são os educadores musicais. Na primeira infância,
especial atenção deve ser dada à educação dos sentidos,
especialmente o sentido da audição.
A educação
musical na Escola Waldorf começa, assim, no maternal e no jardim de
infância. No respeito ao ouvido da criança, ainda em formação.
Sons delicados que embalam e trazem aconchego. A voz humana, ao invés
de sons eletrônicos. A doce presença do Kântele. Sons da natureza.
Muitos ritmos,brincadeiras de dedos, versos, cirandas. Liberdade de
movimentos. Tudo isto é musicalização, e prepara intensamente a
criança para as aulas de música , no ensino fundamental.
No Ensino
fundamental, a música faz parte do currículo, além de ser um
instrumento de trabalho também para o professor de classe. A música
dá continuidade ao desenvolvimento do sistema motor, lança as bases
para um pensar vivo e criativo, e cultiva sentimentos de beleza e
comunhão.
ALFABETIZAÇÃO
O trabalho de
alfabetização começa no ano em que a criança completa 7 anos,
quando ela apresenta todos os requisitos básicos para este processo.
É o que se chama “prontidão”, maturidade psicomotora,
cognitiva, organização espacial e perceptual.
A alfabetização
se dá de forma gradativa, primeiro apresentando o aspecto pictórico
da letra, depois seu som, para finalmente chegar à forma abstrata.
Este processo tenta resgatar o caminho que a própria humanidade fez
ao desenvolver a leitura e a escrita.
ENSINO
EM ÉPOCAS
O conteúdo de
cada ano é dividido em temas principais que são ensinados durante
três ou quatro semanas, de maneira intensiva e profunda.
Rudolf Steiner
descobriu o valor pedagógico frutífero do trabalho intensivo
seguido pelo esquecimento. Esta dinâmica permite aos alunos uma
espécie de digestão do conhecimento adquirido. Quando se retorna a
uma época, as crianças estão cheias de novidades e com vontade de
aprender mais.
PROFESSOR
DE CLASSE
A relação
professor-aluno é o cerne da Pedagogia Waldorf. Esta relação deve
ser íntima e profunda, pois a criança necessita ter por modelo uma
autoridade confiável, capaz de transmitir conhecimento com amor.
Esta figura é o professor de classe, que acompanha a turma desde o
1o até o 8o ano, ensinando as matérias principais.
Por que existe
durante tantos anos o mesmo professor de classe? As crianças querem
ser percebidas continuamente em seu desenvolvimento, durante um
período bastante grande. Esse período da vida da criança deve
tornar-se uma biografia na consciência do professor.
A MISSÃO DO
PROFESSOR
Um caminho de
constante aprendizado. Essa é a opção de vida de todo professor. A
satisfação de acompanhar de perto o desenvolvimento do ser humano,
e ver quantas possibilidades estão latentes dentro de nós.
Num mundo onde
valores humanos são cada vez menos considerados, temos a árdua
tarefa de lutar contra uma corrente que prega a alienação, a
massificação de ideias, a falta de sensibilidade. O professor, como
agente transformador da sociedade, começa transformando-se a si
próprio.
Para a Pedagogia
Waldorf, o verdadeiro educador é aquele que se propõe uma constante
busca espiritual, pela auto-educação consciente. Para estimular o
desenvolvimento de seres humanos em formação, deve estar ele
próprio, aberto a se transformar. É o que toda criança ou jovem
espera de qualquer adulto.
No primeiro
setênio, ele deve ter em mente que a educação nessa fase se dá
pelo exemplo. O que o adulto é, conta mais do que as atividades
propostas ou as técnicas usadas. Por isso, nas Escolas Waldorf, o
mesmo professor costuma acompanhar a criança ao longo do jardim ou
maternal.
No Ensino
Fundamental (1a a 8a séries), um único professor, quando possível,
acompanha a turma por todas as séries, impondo-se pelo amor como uma
autoridade a ser seguida pelas crianças, que necessitam dessa
referência.
No Ensino Médio
(9o ao 12o ano), o professor deve ser um perito na matéria que
leciona, e despertar no aluno o mesmo entusiasmo que ele sente. O
adolescente busca confirmar o que é verdadeiro no ser humano, e
precisa tornar sua mente aguçada. O professor, agora sim, já não
deve ser aquela autoridade a quem se admira, mas um amigo com quem se
questiona a vida.
A relação
professor-aluno é o aspecto mais importante para uma educação
integral. Informações podem até ser transmitidas por meios
eletrônicos. Educação, não.
O professor
Waldorf, além da formação tradicional exigida pelo MEC, passa por
uma formação específica, que consiste nos Cursos de Formação em
Pedagogia Waldorf, Fazem parte da formação matérias teóricas como
as que tratam do currículo e do desenvolvimento da criança.
Filosofia , vivências com artes, música e trabalhos manuais.
Entretanto, a
formação de todo professor se completa dentro da sala de aula, no
exercício diário da sua missão. As próprias crianças e jovens
vão nos ensinando a lidar com eles, nos mostrando caminhos,
tornando-se nossos companheiros de vida.
RELIGIÃO
NAS ESCOLAS WALDORF
A Antroposofia não
é uma religião. É uma visão do Universo e do Homem obtida segundo
métodos científicos. Dessa cosmovisão decorre uma imagem do ser
humano, que é objeto de constante estudo para os professores.
Nas Escolas
Waldorf, não se prega nenhuma confissão específica, respeitando-se
a liberdade espiritual de seus alunos e familiares.
O sentimento de
religiosidade, que a criança naturalmente traz consigo, é cultivado
na celebração das festas cristãs e também através de pequenos
gestos de gratidão aos homens, à natureza e a Deus.
OS
LIMITES NA EDUCAÇÃO WALDORF
O ser humano só
alcança sua maturidade aos 21 anos. A criança gradativamente
conquista autonomia, responsabilidade e liberdade. O limite é
imprescindível para a criança em desenvolvimento.
Embora na educação
infantil a criança tenha seu espaço de expressão através do
brincar espontâneo, existem limites e atividades definidas, ritmo e
horários, o que traz segurança para o ambiente.
Do maternal ao
ensino fundamental, os limites são claramente colocados pelos
professores, em linguagem adequada a cada faixa etária.
A
IMPORTÂNCIA DO RITMO E DOS HORÁRIOS
Onde há vida, há
ritmo. O ritmo,a repetição criativa, estão sempre presentes na
Pedagogia Waldorf. Nas festas anuais, no dia a dia, no trabalho
semanal, no ensino em épocas, proporcionando segurança, serenidade
e alegria.
Educando nossos
filhos com ritmo, com horários, também em casa, criamos condições
para que sintam- se mais tranquilos, seguros e saudáveis. A falta de
ritmo, principalmente nos horários de dormir e acordar, é um hábito
bastante prejudicial para a criança, que compromete, inclusive, o
seu desempenho escolar.
MEIOS
ELETRÔNICOS E EDUCAÇÃO: ONDE ESTÁ O PROBLEMA?
“(...)
Todas as crianças são dotadas de incomensurável fantasia, mas
muitas não têm sonhos próprios, porque delegaram à TV o direito
de imaginar por elas. Assim, crescem saturadas de desinformações
que não processam, vulneráveis em seu código de valores e confusas
quanto aos princípios éticos a serem abraçados.. .”
Frei Betto em –
Todas as crianças
O texto que se
segue tem a intenção de provocar nos pais uma reflexão sobre os
malefícios da TV, filminhos de vídeo, videogames e do computador na
vida de nossos filhos.
Na frente de uma
TV a criança está fisicamente inativa; até os músculos oculares
ficam em repouso. Quem já não notou o filho vidrado na frente do
aparelho de TV, como se estivesse anestesiado? Além do físico, o
pensamento também fica praticamente inativo: não há tempo para
raciocínio consciente e para fazer as associações mentais.
“O
fluxo das informações gerado pelo vídeo ultrapassa de longe as
possibilidades que a criança tem de captar o que lhe é apresentado,
“digeri-lo”
e entendê-lo sozinha. Ela capta ora uma coisa, ora outra, e
frequentemente
não consegue, por si só, estabelecer a ligação entre as imagens
que vê e as frases compreendidas. O cérebro é estimulado para
manifestações sensoriais e fluxos de pensamento fracionários e
associativos. Estes não podem ser efetivamente comprovados, pela
criança, sem sua conexão com a realidade. Correspondentemente, as
delicadas tramas nervosas cerebrais, ainda em desenvolvimento, são
influenciadas em sua estruturação. O cérebro se molda mais no
sentido de tornar- se instrumento de fluxos mentais passivos e
associativos. Também na vida futura, uma pessoa que cresceu dessa
maneira dependerá de que as informações lhe sejam sempre dadas
exteriormente, e estará em precárias condições de chegar a ideias
ou critérios próprios - mesmo porque nem sequer surgirá o desejo
de fazê-lo. Por outro lado, encontra-se muito desenvolvido o pensar
crítico, que avalia e condena ou absolve as situações. É que este
tipo de pensar só entra em atividade diante de situações ou
objetos já existentes, não sendo produzido por meio da
criatividade. Um pensar criativo só pode
desenvolver-se
baseado em atividade própria, atenção e vívido interesse pelo
mundo objetivo.”
Consultório
Pediátrico: um conselheiro médico-pedagógico
Meios
Eletrônicos e Educação – Uma Visão Alternativa, Valdemar W.
Setzer
Uma pessoa
assistindo TV (vídeo) entra em um estado de desatenção, de
sonolência e de semi-hipnose.
Assim, o problema
gerado pela TV está concentrado em grande parte no imobilismo que
gera nas crianças, que deixam de fazer o que de mais importante
deveriam fazer nessa etapa do desenvolvimento: movimentar o corpo,
imitar os processos do meio ambiente, tornar-se habilidosas,
entregar-se a atividades que façam sentido. Ver televisão não
requer nenhuma habilidade especial, nem tampouco desenvolve alguma
habilidade especial.
Neste sentido, não
é tanto o conteúdo dos programas de TV que deve orientar a
permissão ou não de assisti-la. O problema é o mal da TV em si,
por tudo que foi dito acima. Ainda citando o mesmo livro: “ao
consumo televisivo segue-se uma inquietude de movimentos tão
desnatural quanto o foi a anterior imobilidade diante da tevê”.
Não é com o conteúdo da mensagem assistida (por exemplo, se foi
cruel ou
não), mas com essa
espécie de imobilidade forçada frente à tela, que se relaciona o
fato de, logo após assistir à televisão, a criança não saber
como entreter-se, tender à agressividade, agitação, ficar mal-
humorada e provocativa. Os conteúdos problemáticos ou não do
programa apenas aumentam ou diminuem o resultado final.
Os mesmos
fenômenos provocados pela TV são observados em uma criança
assistindo filminhos de vídeo, jogando videogames e lidando com o
computador.
Os efeitos na
educação, especialmente em uma educação Waldorf, são
desastrosos. Especialmente porque interferem no processo de
aprendizagem da criança e nos pontos nos quais a pedagogia mais
trabalha: o respeito ao movimento natural e sadio da criança, o
desabrochar da curiosidade e da descoberta do valor de cada ato
humano sobre a natureza, as condições para o florescimento da
criatividade, um sentido para todas as coisas da vida, que é bela e
é aprendida a ser respeitada.
É essencial que
pais e educadores se aprofundem no assunto, adquirindo a necessária
convicção para lidar com uma questão tão delicada.
AS
FESTAS DO ANO
Ao longo do ano,
festas como a Páscoa, São João, Micael, Primavera e Natal, são
comemoradas. Visam, principalmente, despertar na criança seus
valores e seus sentimentos de compreensão, admiração e reverência
à beleza da vida e da natureza.
Estas e outras
festas, de acordo com o pensamento da Educação Waldorf, servem para
religar ou conectar a humanidade com os ritmos da natureza e do
cosmos. Essas festas têm origem nas culturas mais antigas, como
manifestações artísticas. São povoadas de alegria e entusiasmo
das crianças, professores e pais, quer na preparação, como na
celebração.
PERGUNTAS
FREQUENTES
–
“Visão Espiritual da criança”, tem algo a ver com religião?
Não na forma como
comumente é entendida uma escola “religiosa”. Embora tenhamos
fundamentos cristãos, nenhuma doutrina religiosa em particular é
defendida ou ensinada às crianças.
–
Por que os alunos têm que ficar com o mesmo professor por 8 anos?
Entre 7 e 14 anos
de idade, as crianças aprendem melhor através da aceitação de uma
autoridade amorosa, assim como antes , aprendiam através da
capacidade de imitação.
No primário,
especialmente nos primeiros anos, a criança está aprendendo a
expandir sua experiência além do círculo familiar e da sua própria
casa.
O grupo de
crianças da sala de aula torna-se um tipo de família e o papel da
autoridade ( que numa analogia equivaleria ao papel dos pais,em
casa), é representado pelo professor. Assim, professor e aluno
acabam se conhecendo profundamente, o que permitirá ao professor, ao
longo dos anos, encontrar a melhor forma de lidar com as dificuldades
de cada aluno, em vários âmbitos.
– O
ensino é “mais fraco”, se comparado às Escolas convencionais?
Não. A Escola
Waldorf também exige muito dos alunos. A diferença está na forma
com que os assuntos são trazidos às crianças, e no respeito às
suas fases evolutivas.
– Ao
sair da Escola Waldorf, a criança ou jovem terá dificuldades em
adaptar-se a outras escolas, ou ao mundo?
A prática e
relatos mostram que as crianças transferidas para outras escolas
normalmente conseguem bom desempenho e boa adaptação.
Frequentemente se sobressaem quanto à capacidade de concentração,
criatividade, entrosamento social, autonomia e entusiasmo pelo
aprendizado.
– E o
vestibular?
Jovens ex-alunos
Waldorf, mostram-se aptos a passar em qualquer vestibular, tanto
quanto alunos de escolas tradicionais. Podem tornar-se bons
profissionais na profissão que escolherem, seja na área das
ciências exatas, humanas, biológicas, ou quaisquer outras.
Normalmente mostram sensibilidade em relação às questões de ordem
social, estando bem conectados à realidade. Enfrentam os desafios da
vida com equilíbrio e com os “pés no chão”.
– Há
alguma recomendação da Escola em relação à alimentação?
As crianças devem
evitar os doces na parte da manhã, pois o organismo não está apto
a digeri-los, o que prejudica a concentração. Na medida do
possível, o ideal é receber uma alimentação integral isenta de
agrotóxicos.
– Quando
a criança está madura para a alfabetização?
A criança já se
interessa por letras e números. Não estará ela “pedindo” para
ser alfabetizado?
Nas escolas
Waldorf, o processo de alfabetização inicia por volta dos 6 anos e
meio a 7 anos. Paralelamente, cada criança é avaliada
individualmente pela equipe da Educação Infantil. Trata-se de uma
avaliação abrangente, em que são considerados os diversos aspectos
do desenvolvimento da criança, e não somente o cognitivo ou
intelectual.
Atualmente muitos
apresentam precocidade no aspecto intelectual, o que não quer dizer
que tenham maturidade para submeter-se ao processo de alfabetização,
da maneira como feito nas Escolas Waldorf, onde é exigido bastante
da criança como um todo. Problemas futuros podem ser evitados,
quando se tem a devida paciência para esperar.
fonte:
Texto extraído do site Curso Waldorf de Belo Horizonte
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